Auditor Líder ISO 9001:2015 e autor de centenas de artigos sobre Gestão da Qualidade, sempre acreditei que as pessoas têm o poder de mudar o mundo a sua volta, desde que estejam verdadeiramente engajadas nisso. Por isso me dedico a ajudar as pessoas a criar laços verdadeiros com seu trabalho, porque pessoas engajadas mudam o mundo!
À primeira vista, pode parecer que os termos Tambor, Pulmão e Corda (TPC), não tem nada a ver com processos, que estão ligados à alguma orquestra ou algo assim. Porém, eles são utilizados para ajudar a demonstrar o funcionamento da teoria das restrições e também estão ligados ao sistema OPT (Optimized Production Tecnology).
Esses termos foram propostos, inicialmente, pelo físico israelense Eliyahu Goldratt, nos anos 80, sendo amplamente divulgados com a publicação do livro A Meta, de 1984. No artigo de hoje, vou explicar o que significam esses termos dentro do processo produtivo, mostrando como a simples definição desses conceitos pode ajudar sua empresa a produzir mais.
Tambor ou Gargalo
Um processo é composto por diversas etapas e tarefas encadeadas que visam transformar entradas (matérias-primas) em saídas (produto final). Cada uma dessas tarefas tem diferentes tempos de produção, o que pode ocasionar problemas na hora montar todas as etapas em funcionamento.
Para entendermos melhor, imaginemos um processo de produção de peças automotivas formado por três tarefas (A, B e C) e que os tempos de execução dessas tarefas é: A = 1/2 hora; B = 3 horas, e; C = 1 hora. Dessa forma:
O Gargalo da produção é a tarefa que leva mais tempo para ser executada, pois dela dependerá toda a produção. Analisando o exemplo que citei acima, imaginemos que todas as tarefas produzam sua capacidade máxima durante um dia, o que aconteceria?
Imaginemos uma jornada de 9 horas: a tarefa A é capaz produzir 18 unidades de peças não acabadas, a atividade B é capaz de produzir 3 peças e a tarefa C é capaz produzir 9 peças. Perceba que é impossível trabalhar com as três tarefas na capacidade máxima sem gerar um excedente muito grande de produção nas tarefas de menor tempo de execução.
Além disso, como a tarefa C é dependente da finalização da tarefa B, não é possível trabalhar com capacidade máxima da tarefa C pois a tarefa que a antecede não consegue gerar entradas suficientes para que ela finalize uma peça por hora.
Por que tambor?
Nos arranjos musicais, o Tambor (ou percussão) é quem dita o ritmo e a “velocidade” das composições, por esse motivo o gargalo foi batizado de Tambor do processo produtivo. No exemplo que dei, o ritmo de produção desse processo será sempre de 1 produto a cada três horas, pois esse é o tempo que o gargalo/Tambor leva para finalizar uma peça.
É importante determinar qual é o gargalo da produção pois, dessa forma, pode-se atuar sobre ele para reduzir o tempo de execução. Se o gargalo do meu exemplo fosse reduzido em 1 hora, seria possível mais que dobrar a capacidade de produção do processo.
O Tambor da produção pode ajudar a maximizar a utilização dos recursos
Se a tarefa B leva 3 horas para ser executada, não há necessidade, por exemplo, de manter a produção em capacidade máxima na atividade A, que leva somente meia hora para acabar. Isso significa que o mesmo colaborador que executa a tarefa A pode, com folga de tempo, executar também a tarefa C.
Se ele trabalhar por uma 1,5 horas na tarefa A, deixará 3 peças prontas para serem trabalhadas na tarefa B, e poderá executar a tarefa C. Juntando os tempos que ele levará para executar ambas as tarefas (3 peças na A e uma na B), teremos 2,5 horas, que ainda é menos que o gargalo de produção (3 horas).
Da mesma forma, pode-se provisionar melhor as compras, compreendendo que é preciso ter matérias primas de acordo com os gargalos de produção. No caso do meu exemplo, esse processo é capaz de produzir 3 peças por dia. Se a fábrica trabalhar todos os dias do mês, isso significa que eu seria capaz de produzir 90 peças por mês. Sabendo disso, posso programar as compras de matérias-primas mais precisamente, não antecipando compras de materiais desnecessariamente.
Pulmão
No tópico anterior, chegamos à conclusão de que o processo produtivo que estou exemplificando produz uma peça a cada 3 horas. Mas imagine que as tarefa A e C atrasem, isso faria com que o processo todo sofresse um atraso? Não, pois ainda levariam 3 horas para a tarefa B acabar.
Entretanto, se a tarefa B atrasar, todo o processo atrasará, pois ela é o gargalo da produção. Dessa forma é interessante manter um estoque de produtos prontos para entrar nessa tarefa, para que não haja possibilidade de ela atrasar por falta de entradas. A única forma de, por exemplo, a tarefa A atrasar o processo será se ela não produzir peças a tempo para que a tarefa B (gargalo) seja executada.
O Pulmão corresponde ao estoque excedente que o gargalo tem para trabalhar, para que ele se mantenha sempre em produção. É interessante que a tarefa que antecede o gargalo produza sempre um pouco a mais do que o gargalo é capaz de produzir, assim, mesmo que essa tarefa antecedente ao gargalo atrase, o gargalo não parará. Como se fosse um folego na produção.
Lembre-se, o gargalo é que restringe o fluxo, então, se ele parar, todo o fluxo do processo irá travar também.
Corda
O processo que usei como exemplo é bastante simples, entretanto, em alguns contextos, os processos são compostos por diversas etapas e tarefas, o que torna um pouco mais complexo estipular quanto cada atividade em especifico tem de produzir para manter o fluxo de produção constante.
A Corda seria justamente um sistema de comunicação capaz de manter as etapas do processo informadas do quanto elas precisam produzir para manter o gargalo e as demais tarefas abastecidas e, com isso, manter a capacidade máxima de produção. Como se ela amarrasse toda a produção:
- se o gargalo acelera, os outros processos, “amarrados” a ele pela corda também acelerarão;
- se o gargalo tem algum problema e perde tempo, os outros processos se adequarão a ele para não gerar estoques excedentes e desnecessários.
TPC: ferramenta de planejamento da Produção
O nível de automação das industrias é inigualavelmente maior hoje do que era quando essa metodologia foi proposta, e muitas empresas utilizam softwares para planejar a produção. Muitas vezes esses softwares se baseiam nessa metodologia (TPC) para fazer isso. Porém, é importante saber o que esses conceitos significam e identificá-los na produção para conseguir atuar exatamente onde estão os problemas.
Cada vez mais, a informação é um fator decisivo para a melhoria dos processos, para gerar engajamento e para aumentar a qualidade dos produtos e serviços. Não há mais lugar no mercado para empresas que trabalham desnorteante, pouco a pouco essas empresas irão desaparecer.
E aí, fala pra gente nos comentários quais são os Tambores, Pulmões e Cordas dos seus processos?
REFERÊNCIA
SLACK, Nigel. CHAMBERS, Stuart. JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 2009.
Artigo revisado em 27/07/2017
5 comentários em “O significado de tambor, pulmão e corda nos processos produtivos”
Após identificarmos o gargalo do processo, podemo economizar em estoque de materiais parado. Isso otimiza a produção.
Muito boa explicação! Obrigada!
Muito bom!
Ótima leitura!
Excelente explicação.