Cofundador da EDX Consultores, responsável pelos produtos da área de Estratégia & Gestão e de Gestão. Atua há mais de vinte e cinco anos como consultor, desenvolvendo projetos junto a organizações dos segmentos de serviços (com destaque para as áreas de saúde, educação e logística), industrial (empresas dos ramos automotivo, eletroeletrônico e metalomecânico), do agronegócio, do saneamento básico e da mineração, apoiando-as na implantação de ferramentas de Gestão Estratégica (Planejamento Estratégico, BSC e Gestão do Conhecimento, entre outros).
No quarto e último artigo sobre o tema, vamos falar sobre o terceiro eixo do ESG: a GOVERNANÇA!
Mais especificamente vamos conversar sobre Governança Corporativa e como ela se relaciona com as ações que toda organização executa, quando suas lideranças precisam se comunicar com as Partes Interessadas de forma transparente e prestar contas de sua gestão, considerando as particularidades de cada parte.
Começando do começo!
Dentre as várias definições de Governança Corporativa, vamos ficar com aquela que nos é apresentada pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), conforme exposto em seu site www.ibgc.org.br (consulta em 13/04/2022):
“Governança Corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais Partes Interessadas”.
“Partindo dessa definição, fica fácil achar que toda organização tem, cada uma a seu modo, sua Governança Corporativa implementada com sucesso. Certo?”
Ainda de acordo com o IBGC, em seu “Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa”, as organizações que seguem as boas práticas do tema baseiam-se em quatro princípios fundamentais:
Quais são so quatro princípios fundamentais:
- Transparência: “Consiste no desejo de disponibilizar para as Partes Interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da organização”.
- Equidade: “Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais Partes Interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas”.
- Prestação de contas (accountability): “Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis”.
- Responsabilidade corporativa: “Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos”.
A pergunta que fica é: todas as organizações seguem à risca esses princípios?
Eu tenho certeza de que não!
Um conceito fundamental: a ética!
Quando adotamos os quatro princípios fundamentais de Governança Corporativa como ponto de partida, temos que considerar ainda mais alguns conceitos que formam o terceiro eixo do ESG. Um desses conceitos é a ética.
De acordo com a Wikipedia (consulta realizada em 14/04/2022), ética é “o conjunto de padrões e valores morais de um grupo ou indivíduo”.
No mundo dos negócios, essa definição ganha uma importância enorme, na medida em que o “grupo” da definição é a própria organização. Por consequência, suas ações e atitudes são pautadas por esse conjunto que, em teoria, todos devem seguir.
Note que ética pode ter uma conotação nem sempre positiva; afinal de contas, um grupo de traficantes também tem seu conjunto de padrões e valores.
Olhando por esse lado, a grande dificuldade em uma organização – seja do porte que for – está em criar o primeiro conjunto (o dos padrões) para assegurar o respeito ao segundo (o dos valores).
Em diversas teorias sobre Planejamento Estratégico, os valores de uma organização funcionam como princípios e crenças, sobre os quais sua liderança ergue os demais fatores estruturantes da sua Estratégia: a missão, a visão de futuro e o propósito maior.
Em última análise, os valores são o “tempero” de uma organização (algo como a sua “cara”) e acabam influenciando as decisões tomadas em todas as suas instâncias hierárquicas. Ou pelo menos deveriam…
Ah… o modelo de gestão!
O modelo de gestão de cada organização é, no fundo, a parte mais visível da maneira como a Estratégia é colocada em prática.
A forma de organização desse modelo impacta diretamente na maneira como se estrutura sua Governança Corporativa e sua linha decisória: sócios-proprietários, executivos profissionais, conselho de administração, conselho deliberativo. Cada organização define sua estrutura de decisão e a forma mais adequada de governança.
Nesse sentido, a forma segundo a qual as lideranças de uma organização atuam levam a um comportamento facilmente percebido. Uma organização que preza os eixos do ESG tem que atuar de forma socioambientalmente responsável, seguindo padrões também baseados no atendimento à legislação (conforme aplicável a cada segmento de atuação, nas esferas federal, estadual, municipal e local) e a outros padrões de adoção voluntária que assegure sua governança.
Além disso, o respeito a regras aceitas internacionalmente, consolidadas por meio de acordos, tratados e convenções internacionais, deve compor o modelo de gestão implantado, sob pena de, se não o fizer, comprometer o espaço vital da organização no mundo dos negócios.
Em resumo, pode-se dizer que a base para uma “Governança ESG” é o comportamento ético que a organização demonstra com a prática cotidiana de seu modelo de negócio, de forma alinhada com os princípios e valores pertinentes ao contexto do ambiente de negócios onde opera e com regras e padrões nacionais e internacionalmente aceitos.
Questões técnicas que apoiam uma boa governança
Alguns aspectos da gestão auxiliam a viabilizar a prática de uma boa governança, naquilo que se pode chamar de uma “governança multifacetada” nas organizações, na forma de ferramentas de gestão que são fundamentais para que se chegue a essa prática. A figura acima expõe algumas dessas questões, mas não tem a pretensão de se restringir a elas.
Conclusão sobre o terceiro eixo do ESG
Por tudo o que foi exposto nesse artigo – e em alinhamento com os outros três que o precederam, o último eixo do ESG é:
“A hora da verdade” da gestão de uma organização e sua relação ética com todas as Partes Interessadas pertinentes. Ou seja, com as partes que ela interage, tratando-as com a devida equidade.
Isso inclui a forma como se dá a comunicação de suas lideranças com as demais partes. Ou seja, com base em transparência e clareza, especialmente no que se refere à reponsabilidade por suas decisões e à consequente prestação de contas.
Enfim, toda organização segue normas e padrões próprios de governança. Afinal, cada organização possui seu modelo de gestão, para o bem ou para o mal. Contudo, a armadilha a evitar é: achar que a sua organização já possui boas práticas de governança. Além disso, deixar de levar em conta todos os pontos fundamentais que balizam o terceiro eixo do ESG.
Então…
Não há dúvidas de que o ESG veio para ficar.
Enfim, a continuidade, crescimento e perenidade das organizações dependerão de como cada uma integrará os três eixos do ESG em sua estratégia.
Isso implica evoluir sua gestão para um modelo de relação socioambiental responsável que faça jus ao termo “capitalismo de stakeholders”. Isso, em substituição ao tradicional “capitalismo de stakeholders” (aquele com foco nos lucros de curto prazo para seus acionistas).
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