Cofundador da EDX Consultores, responsável pelos produtos da área de Estratégia & Gestão e de Gestão. Atua há mais de vinte e cinco anos como consultor, desenvolvendo projetos junto a organizações dos segmentos de serviços (com destaque para as áreas de saúde, educação e logística), industrial (empresas dos ramos automotivo, eletroeletrônico e metalomecânico), do agronegócio, do saneamento básico e da mineração, apoiando-as na implantação de ferramentas de Gestão Estratégica (Planejamento Estratégico, BSC e Gestão do Conhecimento, entre outros).
Muito tem se falado, nos últimos anos, sobre energia, eficiência energética e as formas de otimizar seu suprimento/consumo e seus usos finais significativos. O tema vem ganhando ainda mais relevância à medida que conceitos como responsabilidade socioambiental e ESG (Environmental + Social + Governance) surgem como novas formas de levar a sustentabilidade ao centro das discussões sobre o futuro das empresas.
Mas, afinal de contas, qual o papel da gestão e economia de energia na Estratégia das organizações?
O que é, na prática, um sistema de gestão de energia?
No final de 2020, a ISO – International Organization for Standardization – publicou um novo documento que traz, entre outros pontos, orientações práticas para se conceber, implementar, monitorar e aprimorar um sistema de gestão de energia (SGE): a norma ISO 50004:2020.
O foco da nova norma – e de um SGE – é adotar uma abordagem sistêmica para organizações de qualquer tamanho, segmento ou nacionalidade, que necessitem otimizar seu desempenho energético, em alinhamento com outra norma da mesma série, a ISO 50001:2018, que estabelece requisitos mínimos para um sistema desse tipo, inclusive para fins de certificação.
Na prática, uma boa gestão de energia em uma organização inicia-se com sua inserção na formulação e no desdobramento do Planejamento Estratégico, posicionando-a no mesmo patamar das demais decisões e diretrizes de sua alta Direção com outros temas de igual relevância:, tais como:
- Gestão Financeira
- Vendas
- Operações
- Qualidade
- Manutenção
- Pessoas
- Suprimentos
Isso assegura que o tema da gestão e economia de energia tenha, na alta Direção da organização, o compromisso necessário para efetivamente fazer parte da Estratégia.
O alinhamento com a gestão estratégica de uma organização, levando a questão de eficiência energética para a mesa de discussões, é a razão de ser de um SGE, na medida em que, com isso, se asseguram os meios e os recursos necessários à abordagem estruturada do tema.
Por onde começar uma gestão de energia?
O primeiro passo para iniciar a concepção de um SGE começa necessariamente pela identificação das questões estratégicas – internas e externas – relacionadas ao suprimento/consumo de energia e seu uso final nos processos de uma organização, servindo de elo entre o sistema e a Estratégia da organização.
A clara compreensão do contexto da organização é, de fato, o ponto de partida para a concepção e a futura implementação de seu SGE, bem como de sua manutenção e seu aprimoramento ao longo do tempo para alcançar uma eficiência energética
Essa compreensão inclui dados e informações sobre a eficiência energética da organização, seja em termos atuais ou em relação a um futuro desejado.
Partes interessadas
Da mesma forma que o contexto, o entendimento de quais são as partes interessadas pertinentes e suas necessidades e expectativas em relação ao SGE é muito importante.
Em tempos de valorização da #sustentabilidade no que se refere à gestão das organizações, as partes interessadas pertinentes envolvem desde os clientes – que podem ter, por exemplo, requisitos específicos sobre uso de fontes renováveis de energia por parte de seus fornecedores – a sociedade, os órgãos reguladores, até o meio ambiente em si, que é uma parte normalmente negligenciada quando se elencam quais são todas as partes interessadas pertinentes em relação a um sistema de gestão.
Outras questões que refletem as necessidades e expectativas das partes interessadas podem estar presentes na legislação vigente, em regulamentos e outros requisitos que devem ser considerados na concepção do SGE, além de obrigações referentes a acordos entre empresas, iniciativas voluntárias, questões contratuais a atender ou requisitos corporativos.
O segundo passo para a concepção e implementação de um SGE é a definição clara de escopo (operações, processos e atividades abrangidos pelo sistema) e de suas fronteiras (endereços, instalações físicas, unidades de negócio e outros dados similares).
Com isso, os processos necessários à gestão e economia de energia podem ser definidos e detalhados, como forma de fazer frente aos desafios do sistema que está sendo concebido e implementado.
Qual o papel da Alta Direção no sistema de gestão de energia?
A Alta Direção de uma organização que se propõe a conceber e implementar um SGE é a mola propulsora de todo o processo.
Com uma liderança ativa demonstrando comprometimento com relação à gestão, economia de energia e ao desempenho energético, seja a partir de suas ações e seus exemplos, seja pela destinação adequada de recursos para todas as fases do processo.
A definição de uma política energética complementa o papel da liderança no Sistema de gestão de energia. É, também, através dessa política que poderá avaliar os resultados e propor melhorias ao longo do tempo..
Nesse contexto, a Alta Direção demonstra, claramente e sem deixar dúvidas, seu comprometimento com relação à gestão e economia de energia.
A importância de um planejamento bem-feito
O planejamento do SGE específica o que deve estar contido em seu bojo para a melhoria do desempenho energético da organização e sua eficácia no que se refere a atingir os objetivos pretendidos e baseia-se em sete tópicos complementares:
- Identificação e classificação dos riscos e oportunidades: com base em seus potenciais impactos no funcionamento do SGE e no desempenho energético da organização, priorizando medidas de controle e ações de contingência que façam frente aos riscos considerados significativos.
- Estabelecimento de objetivos, indicadores de desempenho e metas de gestão e economia de energia bem como de planos de ação para alcançá-los, colocando em prática o compromisso representado pela política energética da organização e fornecendo a direção para ações de melhoria e a alocação de recursos necessários para alcançá-las.
- Análise crítica do suprimento/consumo e dos usos finais significativos de energia nos processos da organização, incluindo as diversas formas e fontes utilizadas (calor, vapor, biomassa, eletricidade, combustíveis fósseis e outros).
- Determinação de potenciais oportunidades para melhorar o desempenho energético (exemplos: substituição de equipamentos ou sistemas existentes por outros de maior eficiência; priorização do uso de luz natural em detrimento de iluminação artificial; substituição de lâmpadas convencionais por suas congêneres de LED; adoção de procedimentos operacionais mais adequados; otimização de padrões, sistemas ou processos).
- Estimativa de suprimento/consumo e usos finais significativos de energia no futuro, levando em consideração as mudanças previstas nas instalações, equipamentos, sistemas e processos.
- Definição da linha de base de energia como forma de quantificar o desempenho energético da organização ao longo de um período específico, permitindo aos seus gestores uma avaliação das mudanças na eficiência energética entre os períodos selecionados, bem como os cálculos sobre a economia efetivamente obtida a partir da implantação das ações planejadas.
- Determinação das formas de aquisição de dados confiáveis para uma adequada e abrangente avaliação do desempenho energético da organização.
O papel do Sistema de gestão de energia
Por fim e respondendo à pergunta inicial, o papel da gestão de energia em uma organização está diretamente ligada ao ganho de competitividade através da redução de custos, eliminação de desperdícios, mitigação de riscos e reputação; além da sustentabilidade trazida pela redução de consumo e impactos ambientais.
No entanto, cabe ressaltar que os resultados serão perceptíveis a partir da concepção e implementação de um Sistema de gestão de energia bem definido, estruturado e incorporado à estratégia da organização com apoio da Alta Direção de forma ativa.
Fique atento ao Blog da Qualidade, nos próximos dias faremos o artigo da Parte 2 desse tema. Tem complementos por vir!!
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