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Ser líder é cultivar pessoas

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Fernando de Mello Batista

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Eu trabalho diretamente com a Gestão de Pessoas há pouco mais de 5 anos. Sou formado em Administração de empresas com especializações em Gestão de Pessoas e aprendi à gostar muito desse contexto. Desde então tenho estudado, por puro prazer, diversas técnicas, ferramentas e boas práticas relacionadas à Gestão de Pessoas. Assim, busco diariamente contribuir no desenvolvimento da nossa equipe com esta bagagem.

Para começarmos, eu vou propor o seguinte questionamento: “Qual a principal qualidade que um líder deve ter?”. Já adianto que não tenho nenhuma receita pronta; e não acredito em nada de: 5 passos para isto, ou 10 segredos para aquilo; então, não falaremos disso aqui!

É fato que um líder não é, em absoluto, formado por uma (ou pela mais) importante habilidade; na verdade deve ser moldado por várias qualidades, tendo em vista que o papel de um líder nada mais é do que apoiar para que a equipe faça melhor aquilo que já faz, ajudá-la a executar de modo mais eficiente, aumentando a produtividade, competitividade, lucratividade, rentabilidade e sustentabilidade. Resumindo, o papel do líder é cuidar do futuro.

Mas por se tratar de um contexto bastante vasto, eu gostaria de me aprofundar um pouco em algo mais específico: Cultivar gente; o que para mim, significa ter um interesse genuíno em pessoas, se interessar de verdade por elas. Mas vamos lá, vou explicar!

Conhecer para agir

Em qualquer que seja o contexto de nossas vidas, é crucial ter conhecimento. Compreender o mundo e as situações que nos cercam exige ter repertório! O escritor Guimarães Rosa tem uma frase que diz: “A gente nunca entende aquilo que a gente não sabe”. E neste sentido, parece bastante óbvio que uma das habilidades primordiais a ser desenvolvida por um líder no processo de Cultivar Gente é a busca constante pelo conhecimento. E por falar em óbvio, é preciso ter cuidado com o óbvio, porque o óbvio só é óbvio para as mentes preparadas, ou seja, para “aqueles que sabem”.

O líder precisa ter tato para compreender que o crescimento é um processo evolutivo, e que cada indivíduo tem o seu tempo; cada indivíduo é único em seu modo de ser e agir, e deve ser tratado de maneira singular.

Então, antes de buscar desenvolver a equipe, o líder precisa se desenvolver, à ponto de compreender as próprias limitações e dificuldades, aprender com elas; e extrair o seu máximo, levando consigo uma insatisfação positiva, buscando sempre o melhor para si e para os outros, e fazer com que, a partir daí, o ensinamento seja algo feito com propriedade e naturalidade, e não por imposição.

Mas, o que significa cultivar pessoas?

Quando utilizo o termo cultivar, me refiro à essência desse processo. Para explicar isso, vamos relacionar com algo que nos ajude a ilustrar melhor, como cultivar um pé de laranjas por exemplo; assim ficará mais claro o que quero falar nesse artigo: cultivar pessoas!

Preparando o terreno

Tudo começa quando escolhemos o que queremos colher; no nosso exemplo, escolhemos as laranjas. Depois disso, é selecionar bem o terreno onde iremos plantar, preparar o solo, e em seguida plantar a semente para que ela possa germinar. Veja que são passos bem iniciais.

Com as pessoas, deve ser exatamente da mesma forma. É preciso planejar o futuro. É fundamental compreender os objetivos a serem alcançados, entender o que precisamos para atingir estes objetivos, seja relacionado à conhecimentos (prático ou teórico) ou comportamentos.

Acompanhando o crescimento

O passo seguinte do cultivo é acompanhar o pequeno pé de laranjas, com atenção à detalhes como umidade na dose certa, espaço para que ele possa respirar e se desenvolver; é preciso cuidar, regar, adubar, e às vezes proteger a pequena planta de pragas ou predadores.

Com as pessoas é exatamente a mesma coisa! O líder precisa compreender que a autonomia é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento. O processo de desenvolver compreende vários aspectos, como: incentivar a prática, apoiar na geração de aprendizados diante das falhas e acompanhar a evolução com o passar do tempo. Isto gera um fator primordial no crescimento humano, a independência. Parafraseando Shakespeare, ao líder é importante compreender “a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar a alma”.

Apoiando o crescimento

Em alguns momentos o pequeno pé de laranjas terá contratempos, a raiz para romper o solo irá encontrar algumas pedras, mas isso fará com que as raízes se fortaleçam. Haverá chuva, vento, sol, mas passar por tudo isso fará a planta cada vez mais forte e frondosa, e cada vez mais pronta para produzir frutos.

E com pessoas? Sem dúvidas, isto também irá acontecer. Haverá momentos em que será necessário mais apoio, haverá conflitos e/ou desalinhamento de ideias; haverá momentos em que pode parecer não haver saída, e é nessas horas que a liderança mais vai fazer a diferença. Ao líder, cabe compreender que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”; como diria Paulo Freire.

Colhendo os frutos

Depois de um tempo, de um bom tempo, as primeiras laranjas surgem como que num passe de mágica. Mas lembre-se, foi preciso muito esforço, foi preciso antes cultivar. Porém, é preciso compreender que os frutos são apenas uma parte do processo; e será necessário continuar cuidando, fazer podas, adubar, regar, cuidar, para que o pé de laranjas continue se desenvolvendo, fique mais frondoso e produza novos e melhores frutos.

Com as pessoas é exatamente da mesma forma. Os primeiros resultados, os primeiros feitos, são uma parte do processo, portanto, o ciclo não se encerra aqui. Aí, então, o líder precisa acompanhar, participar ativamente do desenvolvimento e estar atento para apoiar nos novos aprendizados. Isto é fundamental para o crescimento e desenvolvimento, e esta interação é valiosa para ambas as partes; Paulo Freire tem uma frase que diz: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”. O resultado disso é o combustível que move a empresa: inovação, melhoria contínua, motivação, boa comunicação, etc.

Ser líder é…

O filósofo Aristóteles nos ajuda a resumir este processo com a seguinte frase: “Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes, repetidamente. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.

A partir daí, e para concluirmos, me arrisco a dizer que a única chance de este processo de cultivar gente dar errado é a falha nas expectativas. É acreditar que as coisas são óbvias demais, e deixar de lado uma boa conversa, deixar de orientar. Acreditar que as coisas devem ser feitas no tempo que “eu acho” que devem, sem saber onde se quer chegar ou nem mesmo o que é preciso para chegar; em síntese, não orientar, não cultivar.

Liderar não é um cargo ou um posto de uma hierarquia, liderar tem muito mais haver com exemplo, e com se desenvolver ao máximo e aplicar os conhecimentos adquiridos para desenvolver novos talentos, apoiando no crescimento das pessoas à sua volta; o líder precisa fazer com que as coisas façam sentido, e que as pessoas entendam o seu propósito, se sentindo úteis e parte da construção.

O líder deve planejar o futuro, para não plantar um pé de laranjas na expectativa de colher maçãs. Isto seria frustrante para todas as partes envolvidas. Seria algo como tentar avaliar um peixe pela capacidade que ele tem de voar.

Liderar é compreender que as pessoas também precisam ser cultivadas, e que os resultados são frutos de uma trajetória. O líder precisa ter um interesse genuíno em gente, saber cuidar das relações, conhecer e conquistar as pessoas, e ser hábil em desenvolver talentos.

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