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Gestão de mudanças abruptas: o que fazer quando o imponderável acontece?

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Davidson Ramos

Davidson Ramos

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Auditor Líder ISO 9001:2015 e autor de centenas de artigos sobre Gestão da Qualidade, sempre acreditei que as pessoas têm o poder de mudar o mundo a sua volta, desde que estejam verdadeiramente engajadas nisso. Por isso me dedico a ajudar as pessoas a criar laços verdadeiros com seu trabalho, porque pessoas engajadas mudam o mundo!

Gestão de mudanças “abruptas, demorei um pouco para chegar à palavra “abruptas”. Eu até já escrevi alguns artigos sobre gerenciamento de mudanças (são alguns dos meus prediletos, inclusive). Entretanto, nesses artigos, eu abordei uma perspectiva mais comum, a das mudanças que podemos planejar.

Nesses casos, temos uma espécie de mapa a seguir. Ele é mais ou menos assim:

  1. Identificar a mudança
  2. Planejar as mudanças
  3. Conscientizar as pessoas sobre porque mudar
  4. Mudar
  5. Sofrer/Colher os impactos práticos da mudança
  6. Analisar os impactos das mudanças
  7. Consertar os erros
  8. Melhorar o sistema

Se analisarmos bem, as ferramentas de gestão de mudanças mais conhecidas trabalham mais ou menos assim. Se você pensar um pouco, consegue colocar esse MDGP (“Mapa Davidson da Gestão de Mudanças”) em algumas fases do PDCA, do método ADKAR e, até certo ponto, do 8D e do MASP também.

Porém, com a intensificação da crise do Coronavírus no Brasil, nós praticamente pulamos os 4 primeiros itinerários do mapa. Partimos direto para a parte crítica e estamos sofrendo os impactos da mudança.

Além disso, a mudança foi externa, então “não temos erros para concertar”. Da mesma forma, melhorar o sistema, agora, está intrinsecamente ligado a adaptá-lo ao contexto externo. Adaptar o sistema ao contexto atual, nesse momento, significa mudar.

É como se tivéssemos dado de cara com o poema do Drummond e, perdidos, nos perguntamos:E agora, José?

Fazer a Gestão de mudanças abruptas não é uma opção

Esse contexto se instaurou no país. De um jeito ou de outro, sua empresa está no meio disso e está sendo afetada. Isso é um fato.

Em menos de 5 dias úteis, um país começou a se adequar ao home office.

Um povo conhecido povo “festeiro e animado” teve que se habituar a não sair de casa.

Milhares de pessoas começaram a se programar para evitar certas situações (aglomerações, supermercados, contatos físicos, etc, etc, etc).

Infelizmente, nós não tivemos tempo para nos planejar, as mudanças simplesmente chegaram (sem nem ao menos bater na porta). Muitas delas vão deixar marcas profundas na nossa sociedade e, com isso, nas empresas. Assim, mesmo que não as tenhamos planejado, ainda teremos que gerenciá-las.

Agora, mais ou menos 2 semanas depois que os efeitos reais começaram a se tornar visíveis aqui no Brasil, os ânimos talvez estejam um pouco mais acalmados. Acredito que, mesmo sob uma tempestade de incertezas, reagimos bem diante da crise. Contivemos (ou estamos contendo) bem a 1ª etapa dessa crise.

Conforme os dias passarem, a crise econômica vai se intensificar (2ª etapa). As empresas vão ter problemas com fluxo de caixa. Assim, mesmo que o Corona esteja contido, ainda há o que fazer. Dessa forma, mais que nunca, precisamos ter calma. (recomendo muito a leitura do artigo Coronavírus: liderança em tempos de crise, da Monise. Acredito que esse texto transmitiu essa calma a qual clamo de uma forma que eu não consegui imprimir nesse artigo).

A 2ª etapa da crise do Coronavírus

Sabemos que o momento é delicado, assim como já passamos por diversos outros semelhantes. Talvez, se você puxar na memória, vai se lembrar de situações parecidas. Situações que nos fizeram tomar decisões difíceis, que exigiram calma e reflexão, que nos tiraram da zona de conforto.

Nós sobrevimos, aprendemos, ficamos mais fortes. Tudo porque tivemos calma para levantar a cabeça e olhar adiante, vislumbrar o horizonte. Agora, não será diferente!

Passado o susto inicial. Tomadas a primeiras medidas contra a disseminação do vírus. É hora de focarmos na continuidade de nossos negócios. E aqui, gostaria de deixar uma explicação pessoal:

“Salvar a economia” ou “Salvar vidas”?

Essa é a discussão irracional das redes sociais, alimentada por haters, estudiosos, pessoas comuns e até mesmo autoridades de estado. Quero deixar claro que não estou nem do lado A, nem do lado B, porque:

 

NÓS PRECISAMOS DEIXAR DE SER DICOTÔMICOS!

 

(desculpe o grito, rs, mas é só para dar ênfase mesmo)

 

Quem disse que precisamos fazer um OU outro? Que não podemos fazer um E outro. Quem disse que não podemos tomar medidas de contenção do vírus e atuar para aquecer a economia? Nós precisamos começar a fazer uma Gestão de mudanças abruptas!

 

Por que, em nome de Deus, em um dos momentos mais delicados do século XXI, não podemos cooperar ao invés de “discutir sobre quem está certo”?

 

Pensar que só um desses vieses é possível, na minha opinião, é um ato preguiçoso, perigoso e conformista. Um ato de quem prefere se agarrar às próprias convicções ao invés de estar aberto e buscar o bem comum.

 

Por fim, para resumir a ideia: nós não vamos vencer essa crise se focarmos só em uma coisa ou só na outra… (trecho publicado originalmente no meu LinkedIn)

Voltemos ao texto!

E agora, Coronavírus?

Esse é um daqueles momentos em que precisamos colocar todo o planejamento de lado. Várias empresas (inclusive nós aqui na ForLogic) fizeram o planejamento estratégico no começo do ano. Elas desenharam estratégias maravilhosas, incríveis. Entretanto, agora, é hora de sentar e replanejar as coisas.

Eu não tenho uma fórmula mágica para você (dessa vez, eu gostaria de ter). Entretanto, acredito que algumas ações e posicionamentos podem ajudar a passar por esse momento. Então, vou deixar alguns insights aqui.

Haja com transparência

Por mais esperançoso que eu esteja, precisamos entender que é um tempo de incertezas. Assim, muitas ações terão de ser tomadas junto a nossas equipes. Não sabemos como nossos faturamentos vão oscilar e nem como o mercado vai, de fato, reagir.

Por mais que as pessoas entendam que estamos em crise, as vezes elas não conseguem conectar isso aos números da sua empresa. Não conseguem conectar o contexto externo aos impactos que eles trazem.

Dessa forma, mais que nunca, é preciso ser transparente com as pessoas. Muito provavelmente, decisões difíceis serão tomadas, precisarão ser tomadas, e fazer isso sem transparência a respeito da situação da empresa e do mercado será ainda mais difícil e pode gerar ainda mais confusão. Nós precisamos nos adaptar a uma Gestão de mudanças abruptas. Como sabemos, a confusão faz as pessoas desconfiarem uma das outras e, assim, destrói-se a cooperação.

Ouça as pessoas

Todos os materiais que eu estudei (os webinars que assisti, os artigos que li e as pessoas que ouvi) têm um consenso meio clichê (mas real): é preciso criatividade.

Mas como ser criativo em meio a uma enxurrada de decisões para tomar? É possível? Sim, acredito muito que sim. Entretanto, não podemos nos esquecer de que temos uma fonte de criatividade enorme em torno de nossas empresas: as pessoas.

Esse ano, assisti a uma palestra do Luciano Pires na qual ele contou sua jornada escalando o Everest. Ele contou que aprendeu um ditado sobre alpinismo que reflete a co-dependência das pessoas e a necessidade de união para empreender jornadas épicas às maiores altitudes do mundo:

“Ninguém fica sozinho na montanha!”

Agora, ainda mais que sempre, é preciso juntar as pessoas (não presencialmente, é claro, rs), aproveitar as competências de todos e encontrar formas de sair da crise.

A criatividade é vista por muitos pesquisadores como a capacidade de fazer conexões improváveis para resolver problemas. É hora de exercitar a criatividade entre pessoas, incentivando-as a fazer conexões improváveis (inclusive entre as próprias pessoas) e, assim, inovando.

Tenha empatia e pense no coletivo

O conceito de empatia já não é mais uma novidade, porém, nesse momento, sua prática será testada ao limite. Não será apenas um teste de caráter, como já o é, será um teste de sobrevivência. Sem empatia, iremos tomas decisões ruins em ambos os aspectos.

Um exemplo bastante simples, com a queda no faturamento e a recessão econômica, consequentemente pensaremos em demitir. Quanto a essa questão:

  • Se analisarmos apenas os números, apenas o resfriamento na economia, demitiremos em massa. Se demitirmos em massa, impedimos as pessoas de continuar consumindo e, consequentemente, aumentamos a crise e as demissões. Aumentadas as demissões, o ciclo continua;
  • Se analisarmos apenas o fator social, apenas as pessoas, ou não faremos nada ou apenas congelamos a economia. Se não fizermos nada, faltara caixa. Se faltar caixa, precisaremos demitir. Crise novamente.
  • Ah, Davidson, mas podemos só não parar nada e, aí, a economia não sofre”. Nesse caso, o vírus se espalha, as pessoas começam a adoecer, sobrecarregando o nosso ótimo sistema de saúde. As pessoas começam a morrer. O medo se espalha e o isolamento social deixa de ser “imposto” e passa a ser voluntário. Crise novamente.

Você percebe o tamanho da “sinuca de bico”? Dessa forma, precisamos entender que é hora de remanejar pessoas, mudar a forma de trabalhar e encontrar uma forma, segura e responsável, de seguir adiante.

Esse momento, ao menos, serviu para deixar ainda mais claro o quanto somos interligados e o quanto dependemos uns dos outros. Então, é preciso ter empatia, pensar nas pessoas pelas pessoas, aproveitando a contribuição de todos e atuando para superar a crise. Como disse Winnie Byanyima, diretora-executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) , “respostas bem-sucedidas a epidemias globais colocam as pessoas no centro”.

Fomos obrigados a reagir, mas agir é uma escolha!

Todos nós fomos forçados a reagir e foi muito importante reagir rápido. Agora, daqui em diante, é hora de agir! Sei que é muito mais fácil escrever um texto do que criar formas de superar essa crise toda.

Entretanto, continuar apenas reagindo pode nos manter no mercado, mas apenas esperando para literalmente sofrer a próxima crise. Assim, é preciso planejar formas de sair da crise. Planejar formas de fortalecer nossos processos, mudá-los, adaptá-los e melhorá-los. Mais que nunca, é hora de ter um plano pós-crise, de planejar ações, executar projetos e fazer a Gestão de mudanças abruptas.

Precisamos sair da crise mais fortes do que entramos nela. E ser mais forte é criar formas de fornecer entregas excelentes mesmo em meio ao isolamento. Se perseverarmos e alcançarmos isso, nossas empresas ganharão imunidade contra um mal muito maior que o Coronavírus, elas se tornarão imunes à crise, seja ela qual for.

Leia a série completa:

#1 – Qual é o papel da Qualidade contra o Coronavírus (COVID-19)?

#2 – Como fazer gestão de crise, um exemplo prático da ForLogic #coronavírus

#3 – Coronavírus: Liderança em tempos de crise

#4 – Coronavírus: como fazer gestão de crise do zero?

#5 – Gestão de mudanças abruptas: o que fazer quando o imponderável acontece?

#6 – Análise crítica pela direção em momentos de crise (ou fora deles)

#7Liderança em tempos difíceis: você é o capitão do navio, mas que tipo de capitão?

Imagem do banner da nova página sobre gestão de riscos.

Sobre o autor (a)

4 comentários em “Gestão de mudanças abruptas: o que fazer quando o imponderável acontece?”

  1. Davidson Ramos

    Ahhhh, um P.S.:

    Durante a produção desse texto, me esforcei ao máximo para que minhas palavras não fizessem parecer que o tempo que está por vir vai ser fácil, mas também que é possível e que precisamos nos esforçar para melhorar as coisas. De antemão, peço desculpas se não atingi nem num nem outro objetivo.

    Obrigado por ter lido até aqui, se você ainda não saiu da página, acredito que temos, juntos, esperanças de fazer dessa crise um período de dificuldades sim, mas também de evolução, autoaprendizado e melhoria. Gostaria de saber a sua opinião sobre isso.

    Um abraço, até a próxima e um bom trabalho!

  2. João Paulo Castro Fernandes

    Como falar em mudanças sem envolver as pessoas no processo de identificação e planejamento?

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